CNseg atenta à alta, pela sétima vez neste ano, da projeção da inflação

28 de Setembro de 2020 - Expectativas Econômicas - A semana promete muitas notícias que podem afetar as projeções dos indicadores econômicos divulgadas no Boletim Focus, do Banco Central. “As relações entre política e economia permanecem no radar dos analistas e a principal razão para isso é que o País realizou gasto fiscal muito elevado no combate à pandemia. Sua representatividade de aproximadamente 9% do PIB foi superior ao gasto de muitos países desenvolvidos e, de longe, o maior entre as economias emergentes, mesmo que já tivéssemos, há anos, uma relação dívida/PIB mais alta que nossos pares”, comenta Pedro Simões, economista do Comitê de Estudos de Mercado da CNseg, a Confederação das Seguradoras, ao blog Sonho Seguro.

Enquanto dilemas na condução da politica econômica dominam as notícias para se saber como o governo lidará com o Teto de Gastos em 2021, a projeção do IPCA fica mais preocupante ao setor de seguros, uma vez que o IGP-M sobe mais pontos percentuais do que o IPCA. “Este descasamento pode vir a ser um motivo de preocupação para seguradoras especializadas em previdência, muitas das quais pagam beneficios corrigidos pelo IGP-M, mas tem seus ativos atrelados ao IPCA”, afirma o economista que assina o boletim Acompanhamento das Expectativas Econômicas semanal feito pela Superintendência de Estudos e Projetos (Suesp) da CNseg.

Leia a análise completa abaixo:

Acompanhamento Nº 118 – setembro/2020 – semana 4

Depois de várias semanas de reduções nas projeções de contração da economia para 2020, o relatório Focus mostra uma quase estabilidade, com a projeção mediana para a variação do PIB este ano indo de -5,05% para -5,04%. Para o ano que vem, a projeção permanece em 3,50%. As tendências negativas do cenário externo que enfatizamos na semana passada, como as tensões da eleição presidencial americana e o aumento no número de casos de Covid-19 na Europa, continuam a preocupar.

No Brasil, as relações entre política e economia permanecem no radar dos analistas e a principal razão para isso é que o País realizou gasto fiscal muito alto no combate à pandemia. Sua representatividade de aproximadamente 9% do PIB foi superior ao gasto de muitos países desenvolvidos e, de longe, o maior entre as economias emergentes, mesmo que já tivéssemos, há anos, uma relação dívida/PIB mais alta que nossos pares.

Dado o caráter insustentável da manutenção desse gasto – a despeito de sua importância para amenizar a contração do PIB neste ano (o que explica toda a onda de revisões altistas que tivemos nos últimos meses) -, cada vez mais os analistas se questionam se estamos “trocando” uma queda menor do PIB em 2020 por crescimento menor nos próximos anos. Afinal, quanto maior o impacto fiscal e consequentemente a deterioração fiscal, maior a incerteza e mais pressionados tendem a estar os prêmios de risco no futuro.

Equilibrar a pressão por gastos com os limites fiscais é tarefa delicada que terá de ser enfrentada em algum momento e, como sempre ocorre na política, há ônus e bônus em tomar tais decisões. Os atores políticos, evidentemente, procuram evitar o primeiro e se apropriar do segundo. Isso pode gerar impasses que preocupam.

O ano de eleições municipais encurta ainda mais os prazos, mas analistas políticos relatam que as negociações para alinhar desoneração da folha, criação de um novo imposto sobre transações, gatilhos para que o Teto de Gastos seja “furado” de maneira a não afetar as expectativas e o programa de transferência de renda que garantiria uma retirada um pouco mais suave do Auxílio a partir do ano que vem – a imprensa noticia que será o “Renda Cidadã” – avançam e podemos ter novidades ainda nesta semana.

A projeção para o IPCA deste ano continua a subir, de 1,99% para 2,05%, assim como a projeção para o IGP-M, de 15,28% para 15,64%, ampliando ainda mais a diferença entre esses índices como vimos enfatizando. O IPCA-15 de setembro (0,45%), que veio um pouco acima do esperado, mesmo com a revisão negativa dos planos de saúde como correção à suspensão do reajuste pela ANS, teve influência sobre esses resultados. A semana trouxe também importantes instrumentos de comunicação da autoridade monetária. Houve poucas novidades reais, e ficou claro que o “forward guidance” precisa ser mais bem entendido pelo mercado.

O rompimento do teto de gastos seria um episódio que interromperia a determinação de juros baixos por um longo período, mas, como sabemos, há diferentes maneiras de se furar o teto e a autoridade monetária não foi clara quanto a isso. O Relatório de Inflação trouxe um boxe com estimativas do impacto do auxílio emergencial no consumo, sugerindo que a parcela do auxílio destinada à poupança pode ter sido pequena.

Nesse caso, o fim do programa pode contribuir para a desaceleração do varejo que vem sustentando a economia, o que reforça o argumento da necessidade da sua retirada suave, com substituição por um programa de renda básica mais amplo. No calendário da semana, destaque para o IGP-M de setembro, na terça-feira (29/09) para a PNAD de julho, na quarta (30/09) e para a produção industrial, na sexta (02/10).


Fonte: CNseg.