Com o maior crescimento desde 2003, ativos financeiros brutos mundiais atingiram recorde de 118 trilhões de euros, afirma Allianz

São Paulo, 24 de setembro de 2014 – A Allianz divulgou, a quinta edição de seu "Relatório de Riqueza Global", que analisa em detalhes a situação de ativos e de dívidas das famílias em mais de 50 países. Com base nos resultados do relatório, os ativos financeiros brutos mundiais de particulares tiveram um aumento de 9,9% em 2013, a taxa de crescimento mais alta desde 2003. Isto elevou os ativos financeiros mundiais totais a um novo nível recorde de EUR 118 trilhões.  O crescimento foi impulsionado pelo desempenho excepcional da bolsa de valores, visto no Japão, nos EUA e na Europa: ativos mantidos como títulos tiveram uma valorização de 16,5% – mais até do que nos anos imediatamente anteriores à deflagração da crise financeira.

Nem todas as regiões conseguiram se beneficiar na mesma medida deste forte crescimento visto no ano passado. Nos mercados emergentes, o crescimento dos ativos teve uma desaceleração devido à turbulência nos mercados locais de capital e de moeda. Este desdobramento teve um impacto particularmente grande na América LatinA: a taxa de crescimento caiu pela metade no último ano, para 6,4 por cento, colocando também a região bem abaixo da taxa vista na América do Norte (+11,7 por cento). 

Em termos de desenvolvimento a longo prazo, contudo, a região permanece no grupo superior, junto com a Europa Oriental e a Ásia (excluindo o Japão), com um crescimento médio da ordem de 12,7 por cento ano desde 2000. Se olharmos para o crescimento de ativos em termos reais, ou seja, menos o índice geral de inflação, o índice da América Latina cai para 5,5 por cento ao ano; isto acompanha basicamente o ritmo real de crescimento na Europa Oriental (+6 por cento), mas é muito menor do que na Ásia (excluindo o Japão), que registrou um crescimento de quase 10 por cento ao ano desde a virada do milênio. "Apesar do ambiente difícil, os ativos na América Latina mais uma vez mostraram um bom desenvolvimento no ano passado”, disse Michael Heise, Economista Chefe na Allianz. "Isto mostra que o processo de recuperação na região continua intacto. Esperamos que o crescimento seja retomado este ano."

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Michael Heise, economista-chefe do Grupo Allianz. Crédito: Claudio Belli

No Brasil, os ativos financeiros brutos tiveram um aumento de 7,0 por cento no ano passado – com um ritmo ligeiramente maior do que a média latino-americana (6,4 por cento). Não obstante, o crescimento do ano passado é o menor aumento anual para o Brasil desde 2008. Os títulos continuaram sendo a classe de ativos mais popular, com mais de 40 por cento do total de ativos, seguidos por seguro de vida e ativos de aposentadoria (cerca de 28 por cento). Ao longo da última década, os ativos financeiros tiveram um crescimento de 13,2 por cento ao ano e desde 2007, o último ano antes de crise, a poupança das famílias no Brasil quase dobrou, enquanto a nível global o aumento foi de menos de 30 por cento. Considerando estes números, não é exagero dizer que a última década foi uma grande história de sucesso para o Brasil. Com relação aos passivos no balanço financeiro das famílias, no entanto, também foram observadas taxas elevadas de crescimento. No ano passado, as dívidas particulares aumentaram 16,3 por cento, colocando o aumento anual desde 2000 a 18,1 por cento. Consequentemente, a proporção entre dívida externa/PIB de particulares teve um aumento de 47,3 por cento, de longe o mais alto na região.

Não foram apenas os ativos que tiveram um forte crescimento no mundo inteiro em 2013; o aumento da dívida (incluindo a dívida hipotecária) também registrou um aumento. Em 3,6 por cento, o aumento da dívida foi mais rápido do que em qualquer outro ano desde o estouro da crise. Não obstante, o índice da dívida global, ou seja, passivos pessoais medidos como uma porcentagem da produção econômica nominal, voltaram a cair ligeiramente no ano passado, registrando uma redução de meio ponto percentual, para 65,1 por cento. A queda no índice da dívida desde 2009 atinge 6,4 pontos percentuais. Esta desaceleração é, no entanto, unicamente atribuível aos países desenvolvidos, e principalmente aos EUA, onde o índice teve uma queda de 15,5 pontos percentuais nos últimos quatro anos. Nos mercados emergentes, por outro lado, o peso da dívida está aumentando de forma mais ou menos contínua, também em relação à produção econômica. Na América Latina, a dívida pessoal aumentou 14,3 por cento em 2013, excedendo a marca de EUR 1.000 bilhões pela primeira vez. No Brasil, o passivo totalizou mais de EUR 700 bilhões e a dívida per capita ficou em EUR 3.520 – mais de 50% acima da média regional. Apesar do aumento galopante do crédito visto no passado, a proporção da dívida com relação à atividade econômica geral na América Latina como um todo ainda é relativamente baixa: a dívida regional ficou em 31 por cento no final de 2013 e não excedeu a marca de 50 por cento em nenhum país da região – apesar de o Brasil estar chegando bem perto desta marca.

Isto significou que os ativos financeiros líquidos globais (ativos financeiros brutos menos passivos) na verdade tiveram um crescimento de dois dígitos, de 12,4 por cento em 2013. No ranking dos países mais ricos (ativos financeiros líquidos per capita, ver tabela), alguns países mudaram de posição devido principalmente a efeitos de taxa de câmbio, por exemplo, o Japão desceu duas posições. A Suíça continua a constar no topo da lista com uma clara liderança com relação aos EUA. Em uma comparação global, o Brasil ficou na 42a posição no final de 2013 com uma média de ativos financeiros líquidos per capita totalizando EUR 2.140, à frente da Rússia e da vizinha Colômbia.

Este ano, também pela primeira vez, a Allianz analisou minuciosamente o desenvolvimento da distribuição de riqueza em cada país individualmente, usando uma "matriz de riqueza". Os resultados não são necessariamente consistentes com a teoria do aumento cada vez maior da desigualdade. Na verdade, há mais países, entre aqueles incluídos na análise, em que a distribuição da riqueza, de forma geral, não mudou muito ou até mesmo melhorou ao longo da última década, a maioria sendo economias em ascensão e particularmente na América Latina. Em geral, no entanto, a distribuição da riqueza nos países da América Latina é menos igualitária do que na Ásia, por exemplo, que é mais igualitária. A população no decil superior geralmente detém mais de 60 por cento do total de ativos. Uma olhada nas economias desenvolvidas revela uma história diferente como um todo. Aqui, a distribuição da riqueza se deteriorou na maioria dos países incluídos em nossa análise, ou seja, a proporção de riqueza nas mãos dos dez por cento mais ricos voltou a crescer. Em nenhum lugar este desenvolvimento foi mais marcado do que nos EUA. Tendo dito isto, a desigualdade também aumentou consideravelmente em diversos países da Europa (França, Suíça, Irlanda e Itália) e no Japão. Quando o crescimento dos ativos sofre uma desaceleração após uma crise, isto aparentemente teria um impacto particularmente grande nas categorias de baixa e média riqueza. "As implicações políticas são claras: qualquer país que deseja ter uma distribuição de riqueza mais homogênea não deveria tentar limitar o crescimento dos ativos através da imposição de impostos e encargos, mas em vez disso fazer todo o possível para incentivar o crescimento dos ativos como um todo. O crescimento é a melhor forma de conquistar a justiça social", afirma Heise.

Uma análise baseada nas classes de riqueza global corrobora este cenário heterogêneo.

Em 2013, um total de cerca de 912 milhões de pessoas com ativos financeiros líquidos médios vivia nos países incluídos em nossa análise. O impulso que gera a ascensão da classe média global se torna particularmente evidente se olharmos para um período mais longo de tempo: desde a virada do milênio, a parte da população incluída na classe média de riqueza em termos globais quase triplicou na Europa Oriental e aumentou sete vezes na Ásia; na América Latina, também, ela aumentou consideravelmente, em 100 por cento, passando para um total de 60 milhões de pessoas no final de 2013. Mas o rápido crescimento da classe média não é uma história de sucesso para todos. Particularmente nos países desenvolvidos, há hoje menos pessoas de "grande riqueza" do que havia no início do milênio. De forma geral, cerca de 65 milhões de pessoas saíram da "classe superior de riqueza" nos últimos anos. As mudanças absolutas mais pronunciadas neste sentido foram observadas nos EUA, Japão, França e Itália - todos os países nos quais a distribuição de riqueza dentro do próprio país se tornou também significativamente "menos igual".

O número de membros da classe de baixa riqueza (média de ativos financeiros líquidos per capita de menos de EUR 5.300) permaneceu relativamente constante nos últimos anos, em aproximadamente 3,5 bilhões. No entanto, isto é principalmente subproduto de um forte crescimento populacional. Se a tendência for ajustada para refletir este aumento natural, uma verdadeira história de avanço pode ser encontrada por trás destes números: quase meio bilhão de pessoas no mundo - e mais de 33 milhões de latino-americanos - conseguiu ser promovida desta classe para a classe média de riqueza global nos últimos 13 anos. "Este número, mais do que qualquer outro indicador, ressalta o fato de que, em uma comparação global, cada vez mais pessoas estão conseguindo participar da prosperidade global. Portanto, a partir deste ângulo mundial, certamente não se pode dizer que a desigualdade está aumentando", disse Heise.

Top 20 em 2013 por…

…ativos financeiros líquidos per capita

 

… ativos financeiros brutos per capita

 

 

em EUR

ano a ano em %

 

 

em EUR

ano a ano em %

#1   Suíça

146.540

6,2

 

#1   Suíça

220.030

4,2

#2   EUA

119.570

14,2

 

#2   EUA

150.780

11,0

#3   Bélgica

78.300

4,6

 

#3   Países Baixos

121.620

2,5

#4   Países Baixos

71.430

3,8

 

#4   Dinamarca

118.290

2,7

#5   Japão

71.190

7,6

 

#5   Suécia

108.780

9,5

#6   Suécia

70.080

12,8

 

#6   Austrália

105.280

8,6

#7   Taiwan

66.010

10,6

 

#7   Canadá

101.470

7,9

#8   Canadá

65.900

10,4

 

#8   Bélgica

98.150

4,2

#9   Cingapura

64.520

5,4

 

#9   Cingapura

94.210

5,1

#10 Reino Unido

63.490

11,7

 

#10 Reino Unido

93.040

7,7

#11 Israel

55.840

8,8

 

#11 Japão

92.150

6,1

#12 Austrália

53.960

12,1

 

#12 Noruega

78.840

6,9

#13 Dinamarca

53.380

6,6

 

#13 Taiwan

76.350

9,8

#14 Itália

48.800

2,9

 

#14 Irlanda

72.330

2,0

#15 França

46.020

6,0

 

#15 França

68.890

4,0

#16 Alemanha

44.280

5,3

 

#16 Israel

66.910

8,3

#17 Áustria

43.740

1,8

 

#17 Itália

63.900

1,9

#18 Irlanda

34.300

10,8

 

#18 Alemanha

63.850

3,8

#19 Portugal

22.480

8,6

 

#19 Áustria

63.510

1,0

#20 Espanha

21.990

22,6

 

#20 Finlândia

46.470

6,7

Fonte: Virta Comunicação