As revoluções dos consumidores, da ciência, da tecnologia e das potências hegemônicas

Os painéis que se seguiram à abertura do VII Fórum Nacional de Seguro, Vida e Previdência Privada trataram das profundas transformações que estão sendo experimentadas pela sociedade neste século. A começar pela Revolução do Consumidor, título do primeiro painel, que teve o professor norte-americano de Ciências Comportamentais e Economia de Negócios da Universidade Chicago Booth, Richard Thaler, como palestrante.

Para ele, as teorias econômicas tradicionais, de um modo geral e, o mercado segurador, em particular, tendem a achar que os consumidores são altamente racionais no momento das tomadas de decisão financeira, quando, na verdade, são suscetíveis a uma ampla gama de preconceitos que podem levar a decisões equivocadas. “O principal problema das teorias econômicas tradicionais são os supostos ‘fatos irrelevantes’”, afirmou o professor durante o painel que teve Marcelo Picanço, da Porto Seguro, e Luciano Snel, da Icatu Seguros, como debatedores.

O painel seguinte, intitulado “Revolução Científica”, teve como palestrante o diretor do Instituto Wake Forest de Medicina Regenerativa, o doutor Anthony Atala, também norte-americano, que abordou os avanços da medicina regenerativa, que, em breve, será capaz de imprimir, em impressoras 3D, órgãos humanos completamente funcionais, que poderão substituir os danificados, como se faz com as peças de um veículo. Outro importante avanço nessa área será a utilização, nesses novos órgãos, de células não necessariamente embrionárias, como acontece na tecnologia atual de tratamento com células tronco, mas de qualquer célula do corpo, que poderá ser revertida ao estágio embrionário e, posteriormente, convertida em uma de outro tipo. Curiosamente, lembra o cientista, os avanços tecnológicos criam eventuais dilemas éticos, como é o caso de utilização de células de embriões, mas também os resolve, como no exemplo.

E esses avanços, que poderão levar os seres humanos a viverem muito mais, trarão – e já trazem – grandes impactos na indústria de seguros, sobretudo nas de vida e previdência. O painel sobre Revolução Científica também contou com a participação de Washington Silva, da Metlife, e Rosana Techima, da Caixa Seguros, como debatedores.

Logo depois do almoço, os participantes do evento retornaram ao auditório para ouvir as previsões de futuro do presidente da Grey Brasil e mentor de estratégia e inovação do Grupo Newcomm, Walter Longo, palestrante do painel “Revolução Tecnológica” e, para quem, já vivemos na era pós-digital, quando o mundo digital já não é novidade e está incorporado em nosso cotidiano sem causar tanta perplexidadade como antes.

E dentro dessa nova realidade, Longo identifica três grandes macrotendências, que são a efemeridade, a mutualidade e a sincronicidade. A primeira está relacionada ao fato de as novas gerações já não terem tanto compromisso com suas escolhas, mudando muito rapidamente de opinião e trocando de amores, carreiras e vida como quem “troca de tênis”. E isso torna-se um grande desafio para a indústria de seguros, que precisa repensar sua comunicação, já que argumentos como segurança, prevenção e cuidado, não têm mais tanto apelo. “As empresas precisam se manter efêmeras para se manterem perenes”, afirmou, lembrando, ainda, que a “única coisa que não muda é o desejo das pessoas se conectarem com outras pessoas”.

A segunda macrotendência, a mutualidade, surge com a internet das coisas, onde todos os aparelhos utilizados em nosso dia a dia comunicam-se entre si, permitindo a geração de uma quantidade enorme de dados e informações relevantes. Mas, segundo ele, ainda precisamos aprender lidar melhor com essas informações, trocando os bancos de dados por bancos de fatos, onde as informações temporais e causais são mais importantes que as cadastrais, o que leva à terceira tendência, da sincronicidade, ou seja, a capacidade de atender ao cliente no momento exato em que ele necessita, priorizando os hábitos aos perfis. Para ilustrar, Walter Longo citou o exemplo do Waze, aplicativo para celulares que, entre outras funcionalidades, utiliza, em tempo real, informações de deslocamento de motoristas para identificar o fluxo do trânsito e sugerir as melhores rotas, indo muito além de um simples GPS. “O Waze poderia, por exemplo, ser utilizado pelas seguradoras de automóveis para determinar o valor do seguro de acordo com a rotina de utilização do veículo”, afirmou Longo, que entende que indústria de seguros ainda trabalha com protocolos genéricos, quando já poderia e deveria trabalhar com protocolos individuais para a avaliação de risco. Ele reconhece, porém, que, por tratar-se de um setor altamente regulado, há limitações, apesar de não serem um completo impeditivo para a inovação.

O painel sobre tecnologia também contou com a participação de Edson Franco, da Zurich Santander; de Fabio Lins, da Prudential do Brasil; e de Mario Nogueira, da Exib Latin America.

O último painel do dia teve como tema o “Cenário estratégico deste século”, contando, como debatedores, com a participação de Miguel Cícero, da Brasilprev; Vinicius Albernaz, da Bradesco Seguros; e Ilton Schwaab, da BB DTVM, além da palestra do professor da Faculdade Dom Cabral, Paulo Vicente, que abordou os possíveis cenários geo-políticos futuros baseados na teoria dos ciclos de Kondratieff, do economista russo de mesmo nome, que afirmava que as economias capitalistas passam por ciclos que duram, em média, 120 anos, quando uma potência hegemônica é substituída por outra após períodos de crises, guerras e inovações tecnológicas. Para Paulo, o último ciclo teve início com os 30 anos das duas Guerras Mundiais do século XX, que culminaram com a supremacia dos Estados Unidos, em substituição ao Império Britânico.

E essas mudanças, que surgem do conflito entre sistemas rígidos (as hegemonias) com flexíveis, geram o caos, que, para ele, é o verdadeiro elemento modernizador, pois é quando as pessoas estão dispostas a “pensarem o impensável”. Como exemplo, Paulo afirma que foi a 1ª Guerra Mundial o grande impulsionador dos avanços das mulheres na sociedade, quando aceitou-se que elas fossem inseridas no mercado de trabalho, liberando os homens para os campos de batalha. Olhando para o futuro e o avanço da Inteligência Artificial, o professor provocou a plateia, afirmando que poderá chegar o dia em que as máquinas terão direitos civis como os humanos. Para quem se surpreendeu com a afirmação, ele lembrou que houve o dia em que os negros e as mulheres já foram considerados propriedade também. “Mas qual será a próxima grande potência?”, indagou o professor à plateia, afirmando, logo em seguida, que provavelmente ela ainda não se formou, mas possivelmente será a que surgirá da união da Europa, da América do Norte, do Oriente, ou mesmo da América do Sul, liderada, neste caso, pelo Brasil.

Lembrando que seus prognósticos são apenas prognósticos, Paulo Vicente arrisca afirmar que o próximo ciclo poderá começar com uma grave crise mundial por volta de 2020, passando por guerras na década de 2040, até que uma nova potência se afirme por volta de 2090. Quem viver, verá. A única certeza é que o VII Fórum Nacional de Seguro, Vida e Previdência Privada continua amanhã, dia 29, em São Paulo, abordando os desafios da distribuição e a reinvenção de segmentos do setor, além de apresentar um talkshow com o presidente da FenaPrevi, Osvaldo do Nascimento.

Fonte: CQCS | CNseg