Para jovens, investir em risco é chance de ter renda maior na aposentadoria

Um conselho recorrente dos consultores financeiros é: prepare uma renda complementar para quando chegar a hora de pendurar as chuteiras. Com as mudanças recentes nas regras da Previdência Social, ficou ainda mais importante se planejar desde a juventude. E quanto maior o tempo para se formar patrimônio, maior a margem para se correr riscos com o objetivo de engordar as reservas.

Não dá para contar com a sorte. O teto do benefício da Previdência Social é hoje de R$ 4.663,75, mas 62,5% dos pagamentos urbanos são de valores entre um e dois salários mínimos (R$ 788 a R$ 1576). Somente 4,5% recebem acima de cinco salários, ou seja, perto do teto.

São diversos os produtos financeiros que podem ser acionados com foco na renda complementar à aposentadoria (compare exemplos na tabe). A tradicional previdência privada, apesar de conveniente, tem custo considerável: as taxas de administração podem atingir 3% e algumas seguradoras ainda cobram taxa de carregamento a cada novo depósito. E no caso dos planos mais conservadores, os retornos podem deixar a desejar.

"Rentabilidade maior significa risco maior. O investidor tem de escolher o perfil compatível com a sua idade: quanto mais jovem, melhor para se arriscar, pois há tempo para recuperar perdas", afirma o presidente da Fenaprevi, federação da previdência privada, Osvaldo Nascimento.

O Plano Gerador de Benefício Livre (PGBL) e o Vida Gerador de Benefício Livre (VGBL) são as opções de previdência privada aberta. Para o perfil conservador, a estratégia mais comum dos planos é aplicar tudo em renda fixa.

Mas esses produtos permitem que até 49% do fundo vá para a renda variável. Aí moram boas oportunidades para os mais jovens. Segundo dados da Anbima, associação das instituições do mercado de capitais, a rentabilidade média dos fundos de previdência privada de renda fixa está em 5,92% no ano. Já os fundos com mais de 30% em renda variável renderam 6,25% no mesmo período.

Como o horizonte de PGBL e VGBL é o longo prazo, resgates precoces são punidos pelo Imposto de Renda (IR) maior, que chega a 35% para saques antes de dois anos no regime regressivo. Por outro lado, tais planos não têm come-cotas - a cobrança semestral de IR que atinge outros fundos de investimento. "Um ponto interessante é tentar iniciar o plano com um aporte maior e negociar com a seguradora uma taxa menor de administração", indica o professor de finanças Alexandre Cabral. Também em previdência, os fundos de pensão (mantidos por empresas) e os fundos instituídos (ligados a categorias profissionais) são opções que, geralmente, têm custos menores.

Por conta e risco. Tesouro Direto ou carteiras diversificadas com ações de dividendos e debêntures, por exemplo, são opções para quem quer acompanhar a vida do seu dinheiro mais de perto. Mas, para isso, é preciso organização, disciplina e até mesmo ajuda profissional. "Eu vejo a previdência privada igual a qualquer outro investimento. Ela acumula um dinheiro que lá na frente você vai sacar da maneira que quiser", diz Syllas dos Passos Ramos, planejador certificado pelo Instituto Brasileiro de Certificação de Profissionais Financeiros (IBCPF).

Pelo site do Tesouro Direto é possível comprar e vender títulos do governo com facilidade (basta ter conta em uma corretora). Para a aposentadoria, o professor Cabral indica títulos com vencimento longo. Um deles é o Tesouro IPCA2035 (antiga NTN-B Principal), que acumula rentabilidade bruta de 14,14% em 2015 até maio.

E os mais jovens têm mostrado apetite: investidores entre 26 e 35 anos são a maior fatia no Tesouro Direto (33%). Em maio, a plataforma ultrapassou 500 mil pessoas cadastradas e atingiu o recorde de R$ 2,4 bilhões em vendas, sendo R$ 1,3 bilhão do título indexado à inflação.

Segundo José Roberto Savoia, professor de finanças da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA-USP), as pessoas estão pensando no futuro cada vez mais cedo. "Hoje, observamos que a partir dos 30 anos de idade já se começa a pensar em aposentadoria", diz. Mas, segundo ele, por falta de conhecimento, indisciplina ou por entenderem que estão protegidas pelo teto previdenciário, muitos ainda não se planejam.

Fonte: SindsegSP | O Estado de S. Paulo