Roberto Santos espera ano desafiador para setor

O presidente do Sindicato das Seguradoras do Rio de Janeiro e Espírito Santo, Roberto Santos, diz que o mercado segurador fluminense terá de buscar novos nichos e soluções mais criativas para repetir, neste ano, o crescimento de dois dígitos de 2015.

Ele reconhece que o cenário atual é mais desafiador para o mercado, porque as obras ligadas aos jogos olímpicos e o setor de serviços, principais responsáveis pela puxada dos prêmios em 2015 no estado, agora não poderão contribuir de forma tão decisiva. Isso porque, ao lado do término das obras, a crise financeira experimentada pelo governo estadual impacta as atividades econômicas locais, com efeitos negativos sobre as receitas das seguradoras.

Ao lado disso, as seguradoras devem se preparar para um eventual aumento da sinistralidade, concorrência desleal gerada pelas associações automotivas, eventual guerra de preços entre os players do mercado e aumento das tentativas de fraudes. Veja a seguir a entrevista completa de Roberto Santos dada ao Portal da CNseg.   

Considerando-se o grave quadro econômico- segundo ano seguido de forte retração- qual será o cenário mais provável do mercado de seguros do Estado do Rio de Janeiro? Ou seja, será possível manter-se no terreno positivo, haverá desaceleração nas vendas ou mesmo estagnação ou queda?

O mercado de seguros no Rio de Janeiro deverá apresentar crescimento positivo, apesar da crise econômica nacional e, em especial, da crise financeira do estado provocada pela desaceleração das atividades ligadas ao petróleo e offshore, diminuição de receita e dos investimentos do estado. Do ponto de vista de prêmios, estimamos que o crescimento seja em torno de 2%. O desaquecimento da Construção Civil também terá especial relevância nas receitas de prêmios dos Riscos de Engenharia, apesar das obras relativas às Olimpíadas. O Seguro de Automóvel, principal ramo em receita de prêmios do mercado fluminense, ainda que com a crise na venda de veículos zero e o fechamento das revendas de diversas marcas, continuará a ser a principal alavanca do setor. A contrapartida virá com o aquecimento da venda de veículos usados, que trará novas oportunidades em receita de prêmios e em serviços de manutenção. A tendência é de que as companhias busquem formas criativas de reter seus clientes. As frequências de roubo e furto deverão crescer no primeiro semestre, dada a redução de investimentos governamentais na área de segurança, mas, provavelmente, apresentará significativa redução no segundo semestre, em razão das Olimpíadas, conforme histórico em eventos semelhantes.

Como foi o comportamento das vendas no ano passado? Alta ou baixa de prêmios e quais os principais fatores que puxaram o resultado de 2015?

Em 2015, registramos crescimento de 10% nos prêmios no Rio de Janeiro, um ponto percentual acima do crescimento do mercado brasileiro. As obras ligadas às Olímpiadas e o setor de serviços foram alavancadores de prêmios. O conhecimento do consumidor sobre os benefícios do seguro e sua importância no dia a dia, sobretudo em um momento de crise econômica, também influenciaram no crescimento.

Os estados também enfrentam graves problemas, envolvendo atrasos no pagamento dos servidores estaduais e revisão nos valores dos contratos em vigência. No seu estado, há sérios problemas enfrentados pelos governos locais e quais as repercussões na atividade de seguros?

Nos últimos meses, experimentamos uma crise na arrecadação do governo estadual, ocorrida principalmente pela desaceleração do mercado do petróleo, que gerou nos últimos anos receitas consideráveis em royalties. Por este motivo, o estado apresentou problemas como atraso nas obras de mobilidade, desinvestimentos em projetos educacionais, atraso nos pagamentos de fornecedores e servidores, e uma grave crise na saúde pública estadual e consequente desaquecimento na economia, gerando obviamente impactos nas receitas das seguradoras.

Curiosamente, a crise também gera aumento das fraudes em algumas carteiras de seguros, como automóvel e incêndio, e evolução das doenças. Existem carteiras que começam a sentir pressão na sinistralidade puxada, indiretamente, por tais fatores em seu estado?

Sim, de fato. Ao observar a evolução dos componentes da sinistralidade, fica evidente o descolamento nas frequências e custos médios de sinistros. A carteira de Automóveis é uma das mais sensíveis ao agravamento das condições econômicas, uma vez que juros e inflação afetam a manutenção e o financiamento dos veículos. A carteira de Saúde Suplementar é afetada pelo quadro de demissões e o ramo de Seguro Aluguel, pelo crescimento da inadimplência.

Quais são as principais carteiras em volume de prêmios em seu estado e qual o provável cenário esperado neste ano para cada uma dessa modalidade?

Atualmente, as carteiras de saúde, vida, previdência e automóveis são as com maior participação de mercado. Mas teremos um ambiente bastante desafiador para a captação de prêmios em todas as carteiras, já que as projeções mostram que, para repetir o crescimento de dois dígitos de 2015, as seguradoras deverão explorar novos mercados e soluções criativas neste ano. Além disso, no que tange ao sinistro de automóveis, a regulação e o combate à fraude precisarão de melhoria contínua para evitar indenizações ilegítimas que prejudiquem o mutualismo. Indenizar o que é justo é um desafio contínuo do mercado. Para os seguros de saúde e vida, as seguradoras devem atentar para um cenário de crescente desemprego e violência urbana. As medidas de prevenção devem ser vistas como um investimento para a redução de sinistralidade, apesar de, em tempos de crise, haver uma natural tendência do empresariado de redução de despesas. Caberá ao mercado orientar tecnicamente e apoiar de forma efetiva, principalmente o pequeno e médio empresário, com produtos e serviços adequados. Estamos passando por um ciclo econômico bastante delicado, onde o empresário não pode deixar de lado a proteção dos seus ativos. As seguradoras de previdência deverão buscar alternativas de rentabilidade em um ambiente com inflação mais alta. Além disso, a tendência de alta nos resgates deve se consolidar e vai representar outro grande desafio para essa carteira.

De que forma variáveis importantes, como inflação alta, taxas de juros altas, com efeitos no encarecimento dos financiamentos, o aumento do desemprego, podem afetar o seguro em sua região. Quais as modalidades mais vulneráveis e quais as mais resistentes?

Em um cenário econômico onde a inflação e juros elevados estão presentes, dois grandes efeitos surgem no mercado: queda no número de segurados e aumento na sinistralidade, via inadimplência e fraudes, bem como possibilidades de maior ganho financeiro. Os seguradores deverão aprimorar seus “drivers’ de subscrição e precificação, além de ficar bastante atentos às volatilidades do mercado financeiro, visando a melhor alavancagem de performance.

Faça um breve perfil da economia de seu estado, listando as principais atividades. No caso de estado exportador, o atual cenário mundial é mais ou menos favorável para a atividade, tendo em vista a desaceleração chinesa e os efeitos disso para a América Latina?

A economia do Rio de Janeiro é baseada no setor de serviços e na indústria naval. Podemos destacar o setor de turismo, as indústrias de petróleo e gás, química e metal-mecânica. Dado o preço do petróleo e dos minérios no mercado internacional, além da situação da Petrobras e a queda no repasse de royalties, a economia carioca tem experimentado um período bastante desafiador, onde a busca pela eficiência tem sido uma constante para os agentes econômicos locais. O contraponto dessa situação são os grandes eventos que ocorrem até esse ano e irão gerar consideráveis investimentos na capital do estado e receitas com o turismo.

A maioria dos estados constata endividamento crescente das empresas e das famílias, com impactos no consumo e na arrecadação de impostos. Este viés se confirma em seu estado? Quais as apólices de massificados que devem ser mais afetadas pela retração de consumo?

Sim, o endividamento das famílias apresenta crescimento e, nesse cenário, o número de famílias sem condições de pagar suas dívidas também tem crescido. Essa conjuntura reprime o consumo e impõe uma realidade mais competitiva para as carteiras de seguros empresarial e residencial, uma vez que, em tempos como esse, o corte de gastos e até mesmo o fechamento de plantas produtivas podem levar a uma diminuição do mercado potencial do seguro empresarial, enquanto o esfriamento no crédito imobiliário e o corte de gastos familiares podem restringir o mercado de seguro residencial.

Qual o comportamento da sinistralidade a partir de 2015, ano de forte retração da economia? Especialistas afirmam haver uma correlação entre aumento do crime e crise econômica. Quais as carteiras mais afetadas?

Existe uma forte correlação entre a ocorrência de sinistros e crise econômica. Um levantamento da FGV mostra claramente uma relação histórica entre evolução da taxa de desemprego e de frequência de roubo de veículos, o que nos leva a crer que, pelo menos em 2016, registraremos aumento da frequência de roubo.

 

Sobre os extremos climáticos, grande parte do país convive com problemas gerados por chuvas, alagamentos, desmoronamentos. Quais os problemas mais comuns em sua região e o que começa a bater à porta das seguradoras?

A mudança do clima tem gerado alagamentos em várias regiões do estado e tem demandado grandes esforços das autoridades para diminuir a intensidade dos danos à sociedade. No último grande evento do gênero, várias cidades da região serrana foram atingidas e os seguros patrimoniais foram os mais exigidos. Para 2016, os efeitos do El niño mais intenso dos últimos anos devem provocar chuvas mais fortes e concentradas, fazendo com que a frequência de alagamentos seja maior que no ano passado, impactando, principalmente, os seguros de Automóvel; Residencial; e Empresarial.

Em sua região, existe venda pirata de seguros, e quais as razões de o consumidor escolher uma cooperativa em vez de seguradora, apesar das incertezas maiores?

Em regiões do estado onde o poder aquisitivo é mais baixo, as associações têm conseguido maior entrada. A falsa impressão de menor custo para segurar o bem e a possibilidade de parcelamento em 12 meses são os principais motivos para o modelo das cooperativas permanecer ativo. Porém, o que as pessoas devem ter em mente quando procurarem proteger o seu bem é que somente com uma seguradora eles terão a garantia de proteção do seu bem, já que somos providos de reservas técnicas reguladas por agência reguladora. As seguradoras deveriam aproveitar oportunidade para adaptarem seus produtos para “embalagens” mais simples com linguajar mais simples para entendimento do consumidor final, visando combater as associações.

Teme-se em sua região que avance a concorrência predatória em virtude do quadro recessivo. Quais as apólices mais propensas a registrar uma disputa acirrada?

Existe hoje uma preocupação nas carteiras de seguros patrimoniais, com a concorrência predatória influenciada por um mercado mais competitivo em 2016. Muitas seguradoras poderão ser influenciadas a sacrificar suas margens para captar mais segurados durante esse ano. Porém, essa ação não costuma trazer benefícios para o mercado e para as seguradoras envolvidas em “guerra de preços”, ainda mais quando a perspectiva de sinistralidade aponta para crescimento. Em nosso entendimento, o mercado já possui maturidade suficiente para não embarcar nesta “canoa furada”.

No seu estado, há grandes obras de infraestrutura previstas ou suspensas e quais os efeitos para os seguros de grandes riscos?

A agenda de obras de infraestrutura está perto do final e, nos anos anteriores, observamos o crescimento do mercado de grandes riscos. Com o terminar das obras, a carteira de Riscos de Engenharia apresentou queda acentuada na captação de prêmio em 2015 e esse movimento deve continuar em 2016, se não houver a massificação desse produto. Em contrapartida, a carteira de Riscos Diversos teve forte crescimento em 2015 e rompeu os 150 milhões em prêmios anuais, enquanto outras carteiras de grandes riscos se mantiveram próxima da estabilidade.

As pequenas e médias empresas, em contraponto aos problemas enfrentados por setores estratégicos como petróleo, construção civil e indústrias, podem ser uma alternativa para as seguradoras minar os riscos de desaceleração?

O foco em PME tem sido intensificado pelas seguradoras nos últimos anos e provado ser uma estratégia bastante produtiva. Produtos voltados a esse nicho estimulam a consciência do seguro nas empresas, auxiliando o desenvolvimento econômico do País, uma vez que o seguro pode evitar grandes períodos sem produção e fornecer uma ferramenta de resposta rápida em problemas na estrutura física da empresa. Outro ponto favorável para a empresa é a assistência 24 horas, que fornece ao segurado uma série de benefícios como chaveiro, guarda de móveis, vigilância e indicação de mão de obra para reparos.

Fonte: CNseg

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