Sistema de inteligência artificial ajuda a identificar irregularidades nos gastos dos parlamentares

Oito amigos que atuam na área de ciência de dados desenvolverem um sistema baseado em inteligência artificial para fiscalizar os gastos dos deputados federais na Cota para Exercício da Atividade Parlamentar (CEAP).

Batizado de Rosie, o sistema, cujo projeto conseguiu arrecadar R$80 mil em um site de financiamento coletivo (20 mil a mais que o solicitado), já está em plena atividade e, em apenas dois meses de funcionamento, já descobriu mais de milhares de casos suspeitos ao cruzar informações da base de dados do CEAP, que são públicas, com outras bases, como as da Receita Federal, informações sobre a presença em plenário, a localização e as características dos lugares onde as compras são feitas, entre outras.

Por conta disso, já houve um caso identificado de um deputado que solicitou o reembolso de um almoço de R$ 41 por um almoço feito em São Paulo, teoricamente, apenas 35 minutos após ter discursado no plenário da Câmara, em Brasília.

O projeto responsável pelos levantamentos recebeu o nome de Operação Serenata de Amor, revelando a intenção de se desvendar fraudes de pequenos valores, mas que, somados, não são tão pequenos assim.

Em um ano, 513 deputados gastam, apenas com essa cota, 128 milhões de reais, de acordo com o site do sistema (serenata.datasciencebr.com), que aponta também alguns casos curiosos, como o de um reembolso por almoço no valor de R$6.205,00 ou, para ficar no campo alimentício, um pedido de reembolso por 13 refeições feitas em um mesmo dia e, outro, de reembolso de bebida alcoólica em Las Vegas. Dos 513 parlamentares, quase metade, 219, mais precisamente, costuma utilizar o valor máximo de reembolso mensal, que é de R$ 44 mil. Um deles, inclusive, gasta 30 tanques cheios de gasolina todo mês.

Os dados analisados pelo sistema são compilados pelos profissionais e, as suspeitas, encaminhadas à Câmara dos Deputados, por meio do próprio site do Legislativo. Por orientação jurídica, os nomes dos parlamentares com suspeita de irregularidades só são divulgados depois de um retorno da Câmara.

Como se trata de um número muito grande de dados para compilar, os responsáveis pelo projeto aceitam colaborações. Entre 9 e 13 de janeiro, realizaram um mutirão que, com a ajuda de voluntários, detectou mais de 3,5 mil anomalias nos reembolsos, acontecidas desde 2009, denunciando 216 deputados. Um destes, por exemplo, gastou mais de R$ 1500 em um restaurante que serve bode assado, no interior do Brasil.

Com potencial de causar grande impacto na maneira dos deputados utilizarem a cota, o sistema já vem se mostrando exitoso. O deputado do caso das bebidas alcoólicas em Vegas, por exemplo, desculpou-se e ressarciu o valor, afirmando: “Aproveito para assumir a responsabilidade pelo erro cometido, é de praxe dessa assessoria pedir a glosa de itens não autorizados, como bebidas alcoólicas, mas infelizmente dessa vez não identifiquei o produto, já que estava em outra língua”.

Outro, desculpou-se pelo caso de mais de um almoço no mesmo dia, tendo sido um no Acre e outro no Rio Grande do Sul. Ele alegou que uma das refeições havia sido feita em outro dia, mas, devido à pressa, só pegou a nota quando voltou ao restaurante para nova refeição. Pelo sim, pelo não, ressarciu os cofres do tesouro no valor das duas.

Iniciativas como essa mostram que pessoas dispostas, com um pouco de dinheiro, conhecimento e criatividade, podem empreender ações transformadoras, servindo de exemplo para outros segmentos, que podem se utilizar de experiências semelhantes para repensar seus sistemas de compliance.

Para saber mais, assista o vídeo abaixo e acesse o site e a fanpage do projeto.

Fonte: CNseg