Relatório do Grupo Allianz: recuperação em tempos de turbulência

O Grupo Allianz divulgou a oitava edição do seu relatório sobre a riqueza global (em inglês, "Global Wealth Report"), que examinou em detalhes a situação de ativos e dívidas das famílias em mais de 50 países em 2016. Do ponto de vista político, foi um ano muito turbulento. No entanto, as fortunas privadas minimizaram esse aspecto: após um 2015 mais fraco (+4,7%), os ativos financeiros voltaram a crescer 7,1% em 2016, mais ou menos igualando a média observada após a crise de 2008. Em termos mundiais, os ativos financeiros atingiram um novo recorde, de quase 170 trilhões de euros.

O bom desempenho de 2016 se deveu, em grande parte, à corrida de final de ano nas Bolsas, especialmente em países industrializados. Quase 70% do crescimento de ativos de 2016 foram atribuídos a mudanças no valor das carteiras. Apenas 30% se deveram a poupanças originais, ao contrário do que se viu em 2015. A composição das novas poupanças é bastante surpreendente. Os poupadores privados venderam mais títulos do que compraram, porém, colocaram até dois terços de novos fundos nos bancos - o que representa uma nova alta recorde. "O comportamento poupador dos investidores privados ainda se mostra decididamente avesso a riscos", comentou Michael Heise, economista-chefe do Grupo Allianz. "Enquanto os ativos financeiros cresceram ao longo dos últimos anos, sobretudo graças ao bom desempenho dos mercados de valores, o dinheiro novo é colocado principalmente em contas bancárias e em países industrializados. Aqui, no entanto, eles não deixam apenas de gerar retorno, como ainda sofrem perdas reais. Só em 2016, estima-se que os poupadores tenham perdido em torno de 300 bilhões de euros devido à inflação. Em 2017, com a inflação em ascensão, esse número pode duplicar. E na maioria dos mercados emergentes a situação não é muito melhor, com menos de 20% dos ativos financeiros estimados para serem investidos em produtos seguros e de longo prazo. Há uma necessidade generalizada de ação. A digitalização pode ser a chave para melhores processos de investimento".

A aceleração do crescimento em 2016 veio principalmente de países industrializados, onde duplicou e atingiu a marca de 5,2%. A Ásia (excluindo o Japão) foi mais uma vez a líder inconteste em 2016, com um crescimento de 15%; os ativos financeiros no Leste Europeu aumentaram 7,9%. Também em uma comparação de longo prazo, a Ásia (excluindo o Japão) é a região dominante, especialmente quando também levada a inflação em conta. Os ativos financeiros brutos per capita na Ásia (excluindo Japão) subiram em termos reais quase 11% ao ano na última década. As outras duas regiões emergentes, América Latina e Leste Europeu, obtiveram elevação de apenas 5%, o que ainda assim é mais que o dobro das taxas de crescimento na América do Norte (+2,1% de crescimento real desde 2006) e na Europa Ocidental (+1,4%). Por conseguinte, essas três regiões -- América Latina, Leste Europeu e Ásia (excluindo Japão) responderam por pouco menos de 23% dos ativos financeiros brutos mundiais em 2016. Essa proporção mais do que duplicou nos últimos dez anos. Os mercados emergentes têm um peso ainda maior quando se trata do avanço de ativos, com 42% do crescimento atribuível a esse grupo de países na última década. No entanto, isso se deve em grande medida ao desenvolvimento na China que, sozinha, respondeu por cerca de 30% do crescimento mundial desde 2006.

O passivo global das famílias aumentou 5,5% em 2016, a taxa mais alta desde 2007. Isso significa que a dívida também avançou mais rápido do que os resultados econômicos nominais pela primeira vez desde 2009 e o índice de endividamento mundial aumentou quase 1 ponto percentual, atingindo 64,6%. O quadro variou amplamente entre as regiões. O crescimento acelerou levemente - a partir de um nível moderado - na Europa Ocidental, no Leste Europeu e na América do Norte. A América Latina vivenciou um declínio maior no crescimento. Na Ásia (excluindo o Japão), por outro lado, o crescimento da dívida subiu acentuadamente com mais 4 pontos percentuais, chegando a pouco menos de 17%; no topo ficaram as famílias chinesas, que ampliaram seus passivos em vertiginosos 23%. Isso significa que essa região é responsável por quase 20% dos passivos privativos mundiais que totalizam pouco menos de 41 trilhões de euros, comparado a menos de 7% há dez anos . "A situação do endividamento na China deveria ser monitorada de perto", comentou Michaela Grimm, coautora do relatório. "Embora a taxa de endividamento das famílias ainda não esteja na zona de perigo, a dinâmica é alarmante: o índice saltou 17 pontos percentuais nos últimos cinco anos e quase seis pontos somente em 2016 - ambos são números que se destacam em termos mundiais. Apenas para comparar, nos cinco anos que antecederam a grande crise financeira de 2008, o índice de endividamento nos EUA aumentou cerca de 20 pontos percentuais. As autoridades chinesas deveriam tomar cuidado para não cometerem o erro de achar que a China estará imune a uma crise financeira - contramedidas oportunas seriam bem melhor."

Apesar do aumento substancial da dívida, os ativos financeiros líquidos - que são os ativos financeiros brutos menos a dívida - alcançaram um novo recorde mundial, de 125 trilhões de euros no final de 2016. Isso representa um aumento de 7,6% face ao ano anterior. Embora isso esteja ligeiramente abaixo da média para os anos desde a crise, ainda assim está bem acima do crescimento de 4,8% de 2015. Em contraste, no Leste Europeu o crescimento dos ativos financeiros líquidos desacelerou para 9,7%.

O crescimento nos ativos financeiros das famílias brasileiras se recuperou e chegou a 19,5% em 2016 - bem mais rápido do que nos três anos anteriores, nos quais a média foi de 6%. Essa aceleração pode ser atribuída a dois fatores: primeiro, os passivos expandiram apenas cerca de 3% - bem abaixo da média no longo prazo que era de aproximadamente 13% ao ano desde 2006.

Fonte: Seg Notícias