Fontes renováveis de energia: sobra potencial, mas falta disposição empreendedora no Brasil

Da esquerda para a direita: o sócio-diretor da RegE Barros Correia Advisers, Tiago de Barros Correia; o ex-diretor presidente da Travelers Seguros, Leonardo Semenovitch; o CEO South America da Allianz Global Corporate & Specialty, Angelo Colombo; e o diretor do ILUMINA - Instituto de Desenvolvimento Estratégico do Setor Energético, Roberto D'Araujo

A transformação da matriz energética brasileira a partir das variantes renováveis de energia vai gerar um impacto no mercado segurador. Um impacto – ressalta-se - positivo. No entanto, fontes como, por exemplo, eólica e solar, ainda são pouco exploradas no mapa da energia nacional, mas as possibilidades de mercado que sinalizam começam a exigir do setor de seguros e ressegurador uma preparação para a oferta de produtos adequados para a complexa matriz energética do País.

Ainda esbarramos, contudo, em questões legislativas, regulatórias e, sobretudo, ambientais, como apontou o diretor do Instituto de Desenvolvimento Estratégico do Setor Energético (Ilumina), Roberto D’Araújo, durante a plenária “Matriz energética brasileira – mudanças e investimentos”, que abriu, na manhã desta terça-feira (9), o segundo dia do 8º Encontro de Resseguro do Rio de Janeiro, e que teve como coordenador o ex-diretor presidente da Travelers Seguros, Leonardo Semenovitch.

“Não podemos falar em matriz energética sem falar em questões ambientais”, alertou D’Araújo. Para ele, o planeta está dando uma “bronca” naqueles que ignoram o meio ambiente durante o planejamento de projetos no mercado de energia. O palestrante foi enfático: ao mesmo tempo em que as fontes renováveis se mostram instigantes como investimentos, elas também se enquadram num contexto de incertezas, sobretudo quando se avalia a influência do petróleo no mapa da energia. “Mas, certamente, o caminho será outro”, completou o especialista, referindo-se a um provável boom da exploração de fontes renováveis nos próximos anos, quando a “luta” se travará entre o petróleo e a eletricidade.

O Brasil tem uma base renovável expressiva e mundialmente respeitável, mas ainda promove uma das mais eloquentes (e não menos prejudiciais) emissões de gases no planeta. Como informou D’Araujo, o país sul-americano ficou em 4º lugar no indesejável ranking das nações que mais emitem gases poluentes na atmosfera. “Foram 40 bilhões de toneladas”, destacou o representante do Ilumina, completando: “As secas são mais secas; a chuvarada cada vez mais forte. As consequências são abruptas e irreversíveis. Vamos precisar reduzir bastante as emissões de gás carbônico para começar a pensar em desenvolvimento sustentável.”

Hoje, a matriz brasileira de energia é uma das mais “devoradoras” de petróleo do planeta, ressalta D’Araujo, para quem o país ainda “patina” nessa migração para o mercado dos recursos renováveis. Mas o otimismo existe, reforçou. Afinal, somos o país com a geografia que contempla a maior intensidade de variações climáticas. Contudo, como explicou o especialista, ainda estamos atrasados na exploração dessa diversidade para ampliarmos a oferta de energia.

Os desafios até a consolidação da cultura de mercado da energia renovável não são poucos. O consumidor brasileiro ainda enfrenta uma das tarifas de energia mais elevadas do mundo, que cresceu vertiginosamente de 1994 a 2018, como mostrou D’Araujo. A conta cresceu 130% para a indústria enquanto que o impacto no bolso do consumidor evoluiu, no período, 60%. Somente um investimento maciço em fontes renováveis poderá reverter esse cenário adverso, acentuou o representante do Ilumina.

Na sequência da plenária, falou o CEO South America da Allianz Global Corporate & Specialty, Angelo Colombo, que ressaltou a preocupação do setor securitário com a necessidade do mercado de fontes renováveis de energia evoluir rapidamente no Brasil. Para ele, o setor de seguros está atento às possibilidades de negócios – embora ainda pouco exploradas - na matriz energética do país.

Mas, igualmente a D’Araujo, Colombo alertou para os impactos negativos das recentes mudanças climáticas: “Nos últimos três anos, catástrofes naturais não precificadas atingiram o setor de seguros”. O otimismo é, todavia, reinante. Colombo prevê uma redução de custo dos investimentos na matriz energética e, consequentemente, na tarifa para o consumidor final, caso o foco dos negóios seja direcionado para a exploração de fontes renováveis, fugindo, portanto, da volatilidade do dowstream (atividade de transporte e distribuição de produtos da indústria do petróleo, desde a refinaria até as empresas de distribuição ou consumidores), que registrou uma queda na capacidade do resseguro de US$ 6,8 bilhões, em 2017, para US$ 6,2 bi, em 2018. Colombo também reforçou a importância da difusão do seguro paramétrico para atender à nova realidade da matriz energética que se planeja para o Brasil.

Sócio-diretor da RegE Barros Correia Advisers, Tiago de Barros Correia enfatizou a profunda transformação tecnológica do setor de energia, que passa, sobretudo, pela digitalização, processo – como ele mesmo lembrou - deflagrado no começo da década de 1990 e que hoje vive uma “segunda onda” transformadora no mercado de energia local.

Correia assinalou que os investimentos no setor precisam ser revistos, não cabendo mais dispêndio em fontes hidrelétricas, cujos planejamento e construção demandam cerca de cinco anos, enquanto um processo voltado para uma fonte renovável consome, pelo menos, a metade de tempo para sua conclusão, com decisões antecipadas e ágeis e com uma capacidade de resposta às demandas de consumo mais satisfatória. O executivo também lembrou que a mobilidade elétrica é um caminho sem volta e que impõe uma transição acelerada no setor automotivo: “São modelos de negócios no setor de energia que vão ameaçar modelos já existentes.”