Allianz aposta em retomada em ‘V’ e coloca Brasil como prioridade


A economia do Brasil vai se recuperar rapidamente da pandemia, em formato de “V”, e o efeito positivo será um aumento da classe média do Brasil nos próximos anos. Pelo menos, essa é a esperança do presidente da seguradora Allianz no Brasil, Eduard Folch. E a empresa está apostando alto nessa previsão para aumentar a sua participação por aqui e buscar ainda mais protagonismo.

Recentemente, a Allianz concluiu a compra de parte da operação da SulAmérica, referente aos ramos elementares e de seguros de automóveis. O negócio, anunciado ainda em agosto do ano passado, movimentou R$ 3,18 bilhões e colocou o Brasil como maior mercado da seguradora na América Latina, representando 8% da operação da empresa no mundo.

O primeiro semestre foi positivo para a companhia. Mesmo diante do cenário inóspito, a companhia conseguiu concretizar uma expansão e crescer 12% nos ramos em que, agora, opera também por meio da SulAmérica. A jogada faz parte de uma movimentação da Allianz, a nível global, para aumentar sua fatia de mercado em seguros de automóveis e residências.

“Nos próximos seis meses vamos ter uma retomada, que vai gerar crescimento para o mercado segurador. A nossa expectativa é uma recuperação em V e que a classe média também vai seguir nesse ritmo”, disse Folch, que é espanhol, em entrevista ao CNN Business.

A recuperação em V ilustra uma economia que sofre uma forte retração (a primeira perna da letra), atinge o fundo do poço e se recupera com força e velocidade. Muitos analistas dizem que o Brasil corre o risco de uma retomada mais lenta e gradual, algo que lembra o símbolo da Nike.

Logo, 2020 será o ano em que a companhia se firmará entre as maiores do Brasil. De acordo com os dados mais recentes do Ranking das Seguradoras, elaborado pelo Sindicato de Empresários e Profissionais Autônomos da Corretagem de São Paulo (Sincor-SP), a Allianz era a 13º maior seguradora no Brasil em 2019.

Agora, com a compra, a Allianz deve dobrar o faturamento e subir seis posições no ranking, com participação de 4%. No ramo de automóveis, deve sair da 8ª para a 2ª posição, com 15% do mercado, ficando apenas atrás da Porto Seguro.

O movimento de crescimento via aquisições da Allianz é Global. No Reino Unido, por exemplo, a seguradora adquiriu a Legal & General Insurance Limited, uma empresa de seguros gerais, por £ 242 milhões — cerca de R$ 1,6 bilhões, na cotação atualizada.

Outro investimento do grupo na região foi a compra de 51% do LV General Insurance Group (LV GIG), por £ 578 milhões de libras (R$ 3,9 bilhões). Além disso, a companhia desenvolveu, recentemente, uma parceria com o banco espanhol BBVA, no setor de seguros para acidentes.

Oportunidades seguras

Com uma representatividade de quase 7% do PIB no Brasil, o setor de seguros também sofreu com a crise imposta pelo coronavírus. No acumulado de janeiro a maio, de acordo com o levantamento mais recente do Sincor-SP, a queda no faturamento das seguradoras ficou em torno de 2% — ou 6%, se excluídos os números de seguro saúde.

Naturalmente, áreas como as apólices para viagem e automóveis foram as mais afetadas, contrapondo uma maior procura por seguros residenciais, por exemplo, conforme explica o presidente do sindicato dos corretores, Alexandre Camillo.

Mas nada disso impediu grandes seguradoras de continuarem investindo. “Inclusive nas áreas mais afetadas. O Brasil tem muita carência, é sempre um ambiente propício para o crescimento”, avalia. É dessa forma que ele avalia um dos maiores negócios do mercado de seguros consolidado neste ano.

Para o diretor de estudos de projetos da CNSeg, Alexandre Leal, o negócio acontece em um momento de alta liquidez na economia. “As oportunidades estão aí, os juros estão baixos e quem toma as decisões não vai ficar parado”, afirma. Mesmo assim, faz ressalvas. “Muita coisa pode acontecer ainda. Apesar de em geral ter desempenho melhor, o setor não está descolado da economia como um todo.”

Tecnologia para avançar

O setor de seguros sempre foi visto como mais conservador, até pela natureza do negócio. Logo, mudanças não eram tão comuns (e nem sempre aceitas) por uma parte das empresas atuantes e até pelos corretores, que resistiram por muito tempo pela entrada da tecnologia na área. No entanto, na avaliação dos especialistas, esse é um caminho sem volta. Por sorte, a tecnologia tem sido vista cada vez mais como aliada, e não concorrente.

“O modelo de negócio brasileiro tem se destacado, inclusive em comparação com mercados mais maduros mundo afora, por ser focado no atendimento. O avanço tecnológico é inevitável, mas fica provada a importância desse trabalho dos corretores”, analisa o presidente do Sincor.

Os próprios executivos da Allianz sentiram essa mudança na pele e tiveram que mudar diversos planos na marra. Vendo todo o movimento de quarentena acontecendo na Europa, seu principal mercado, a seguradora precisou se mexer e fazer uma transformação digital em pouco tempo.

“A pandemia trouxe uma aceleração da digitalização da empresa. Tínhamos uma empresa basicamente presencial. Conseguimos transferir 1 mil pessoas em casa e isso acelerou a nossa digitalização e os nossos corretores, que também acompanharam esse movimento”, diz Folch.

E esse setor tem sido cada vez mais digitalizado, especialmente por causa de um “boom” de startups especializadas, chamadas de insurtechs. Um estudo da KPMG, em parceria com a plataforma de inovação Distrito, constatou que houve um aumento de 47% no número de novas empresas desse tipo desde 2018, quando esse estudo foi realizado pela primeira vez.

Mas elas ainda não são tão fortes como as vistas em outros segmentos de fintechs, como o bancário e o de crédito. Atualmente são 113 insurtechs em operação no Brasil, sendo que quase metade delas foi aberta nos últimos quatro anos. Na maioria, o quadro de funcionários é pequeno e o faturamento ainda pouco representativo. Cerca de 70% dessas startups tem menos de 20 funcionários, enquanto 66% tem faturamento presumido de R$ 5 milhões. Entre as maiores, 15 delas lucram na casa dos R$ 25 milhões.

Embora, no início, tenham enfrentado certa resistência do mercado tradicional, essas empresas têm encontrado cada vez mais espaço como ‘colaboradoras” das grandes seguradoras — fornecendo plataformas e ferramentas, além do serviço de interação com o cliente. Para o diretor de estudos de projetos da CNSeg, tem espaço para todas.

“Entre as insurtechs, vai haver empresas focadas no processo de desintermediação, outras em facilitar processos dentro das empresas seguradoras, outras ainda vão oferecer o próprio seguro e correr o risco da operação. Desde que obedeçam às regras da [agência reguladora] Susep, é uma novidade bem-vinda que pode ganhar novos mercados, novos clientes”, avalia Leal. E, certamente, a Allianz também está de olho nesse movimento.


Fonte: CQCS.