Mudanças climáticas: efeitos cada vez mais evidentes


O Professor Carlos Nobre, uma das vozes mundialmente respeitadas quando se trata de assuntos meteorológicos e climáticos, não tem dúvidas: a Terra está vivendo, antes do previsto, efeitos cada vez mais evidentes das mudanças climáticas provocadas pelas emissões de gases do efeito estufa em decorrência das atividades humanas.

Extremos climáticos como secas, inundações, ondas de calor, ressacas mais severas e furacões mais fortes são cada vez mais frequentes e responsáveis por desequilíbrios como a fragilização da vegetação pelas secas e calor e a consequente proliferação de incêndios em várias partes do mundo, incluindo o cerrado brasileiro, até o Pantanal, e a floresta tropical úmida da Amazônia. Tudo isso, segundo o cientista, são evidências claras dessas mudanças. 

“Mudanças climáticas são o mais sério desafio que a humanidade jamais enfrentou. E muitas delas estão chegando mais cedo do que o projetado, aumentando rapidamente a percepção do risco por parte da humanidade”, destacou.

O remédio, destaca o cientista que por muito tempo comandou o Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos do INPE e que segue em atividade no Instituto de Altos Estudos da USP, é apressar também as medidas de combate às emissões dos gases do efeito estufa de modo a zerá-las até a metade deste século e evitar que a elevação da temperatura do planeta, que já chegou a 1,1°C, não passe de 2°C, como prevê o Acordo de Paris – ou, idealmente, não passe de 1,5°C.

O Brasil, segundo Nobre, tinha conquistado protagonismo internacional ao assumir no Acordo de Paris a meta de reduzir em 43% as emissões em 2030, na comparação com 2005, tendo como principal trunfo o compromisso de praticamente zerar o desmatamento na Amazônia no mesmo horizonte de tempo. Só que, nos últimos anos, especialmente em 2019 e 2020, estaria tomando uma trajetória inversa, com aumentos anuais na casa dos 30% desse desmatamento.

No universo empresarial, o cientista vê posições antagônicas, com um segmento crescentemente mais consciente, inclusive no agronegócio, buscando direcionar investimentos com base em parâmetros sustentáveis, como rastreamento, se alinhando a pressões positivas de fundos de investimentos.

“Por outro lado, ainda existe um setor do agronegócio bastante conservador e a favor da contínua expansão das fronteiras da pecuária e da agricultura de grãos. Esse grupo atua politicamente para induzir o Congresso Nacional a legalizar permanentemente desmatamentos ilegais do passado, inclusive grilagem de terras”, concluiu.

Entrevista publicada originalmente na Revista de Seguros 914


Fonte: CNseg.