Condições adversas aumentam perdas e disparam vendas de seguros agrícolas

Com mais chuvas intensas, granizo, seca e geada, crescem os prejuízos em lavouras e demanda por apólices aumenta 50,3% só no primeiro trimestre; saiba mais sobre os efeitos do clima do agronegócio no episódio do Mais Podcast

Na virada de 2021 para 2022, as chuvas foram recordes. Enchentes arrasaram lavouras inteiras, arrastando não só lucros, mas principalmente sonhos de quem plantou ali esperança de um negócio promissor. No último período chuvoso, só em Minas Gerais, foram perdidos mais de 120 mil hectares de plantações, segundo a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais (Emater). O levantamento aponta que mais da metade das cidades mineiras tiveram perdas no campo. Dos 853 municípios do Estado, 445 foram afetados.

E essa não foi a única adversidade climática que se abateu sobre o campo. Num país de dimensões continentais como o Brasil, enquanto chovia numa região, outras enfrentavam seca e outras sofriam com severas consequências de geadas. Se para a população em geral essas condições adversas podem causar transtornos, para os produtores rurais são, quase sempre, sinônimo de prejuízo. Com tantas perdas, a demanda pelos seguros rurais disparou. No primeiro trimestre deste ano, as vendas cresceram 50,3% em relação ao mesmo período do ano passado, de acordo com a Superintendência de Seguros Privados (Susep), atingindo a soma de R$ 2,5 bilhões.

Nesse mesmo período, o pagamento das indenizações de apólices rurais deu um salto de 481%. Esse montante acumulado em apenas três meses é maior do que valor de todas as indenizações pagas no ano passado inteiro. De acordo com especialistas do setor, foram exatamente as adversidades climáticas que fizeram a procura por seguros rurais crescer.

Essas chuvas até estavam previstas pela meteorologia, mas a intensidade dos prejuízos não. E o recomeço, para quem perdeu quase tudo, é um desafio. É aí que entra a importância do seguro. “No últimos meses, observamos grandes oscilações climáticas como severa geada e chuva granizo no Sul de Minas. Algumas tiveram perdas de até 100%, outras conseguiram superar em função de ter investido em uma apólice de seguro”, destaca o presidente do Sindicato das Seguradoras de Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso e Distrito Federal (Sindiseg), Marco Antônio Neves.

Massificação é desafio

Dono de uma pequena propriedade no distrito de Cachoeira Escura, em Belo Oriente, no Vale do Rio Doce, Itamar Coelho foi uma das pessoas que viram boa parte da produção de frutas ser destruída pela enchente. “Eu vendia leite, queijo, frutas, hortaliças. Tinha limão, laranja, coco, ovos, galinhas. No dia da enchente, a água subiu tão rápido. Primeiro, nós socorremos as criações, tiramos porco, cabrito. Uma correria só, mas as árvores não dá para tirar. Só de mudas, eu tive um prejuízo de uns R$ 15 mil”, calcula Itamar.

Quatro meses já se passaram e Itamar Coelho ainda não sabe como vai retomar o trabalho como produtor rural. Além das perdas na plantação, a casa onde morava, na propriedade, também foi invadida por água e lama durante uma enchente.

O caso de Itamar está muito longe de ser isolado. Essa é a realidade para praticamente 80% das lavouras brasileiras, porque, segundo estatísticas do setor, só 20% tem seguro agrícola.

Na avaliação do fundador da Prisma Agro Seguros, Luís Vidigal, o grande desafio do Brasil é massificar os seguros e, para ele, isso passa pela educação. “Nos Estados Unidos, mais de 90% da área plantada tem seguro; no Canadá são cerca de 80%, na Europa, 70%. Enfim, o Brasil está muito atrasado nesse quesito e o desenvolvimento do agronegócio necessariamente passa por uma indústria de seguro rural consistente”, destaca.

Com tantas mudanças climáticas, toda uma cadeia produtiva é afetada.

Fonte: CQCS | O Tempo