Chips cerebrais abrem possibilidades para desenvolver Seguros?

A fusão entre tecnologia e medicina tem aberto portas para avanços no tratamento de doenças complexas. A interdisciplinaridade, exemplificada pela adoção de ferramentas como a inteligência artificial e a impressão 3D na medicina, tem sido fundamental nesse progresso. Longe de se limitar a grandes equipamentos, a tecnologia na medicina contemporânea engloba softwares, aplicativos e a telemedicina, melhorando a interação entre médicos e pacientes e a própria educação médica.

Inovações fundamentais para o diagnóstico e tratamento de doenças

Estas inovações, embora menos visíveis aos olhos leigos, são fundamentais para o diagnóstico e tratamento de doenças, bem como para a formação de futuros médicos, numa abordagem mais integrada ao conhecimento. Esse fato se mostra evidente em um levantamento realizado pela Accenture que demonstrou que cerca de 61% dos médicos já utilizam instrumentos de tecnologia para o atendimento aos pacientes e 38% usam ferramentas eletrônicas de gestão.

A jornada até a atualidade é marcada tanto por inovações quanto por desafios éticos e técnicos

Um passo importante nessa trajetória foi o desenvolvimento de implantes cerebrais. Apesar do nome impactante, o implante não é exatamente uma novidade: a primeira demonstração relatada de uma interface cérebro-computador ocorreu em 1963. Durante uma palestra na Universidade de Oxford, o neurocientista William Grey Walter deixou sua plateia perplexa ao conectar o cérebro de um de seus pacientes ao projetor, quando ele avançou os slides de sua apresentação apenas com seus pensamentos. Porém, somente nas últimas duas décadas que o desenvolvimento de interfaces cérebro-computador ganhou ímpeto, prometendo avanços na restauração de movimento e comunicação para pessoas com paralisia severa. A jornada até a atualidade é marcada tanto por inovações quanto por desafios éticos e técnicos.

Chip cerebral tem objetivo de restaurar funções neurológicas perdidas

A Neuralink, empresa do bilionário Elon Musk, saiu na frente desse segmento de inovação com seu chip cerebral denominado Telepathy, conectado a milhares de eletrodos finíssimos, implantados no cérebro por um robô. Este sistema permite a transmissão sem fio de sinais cerebrais, potencializando o controle de dispositivos externos pelo pensamento.

Inicialmente voltado a pessoas com paralisia, este projeto vislumbra restaurar funções neurológicas perdidas. “Imagine se Stephen Hawking pudesse se comunicar mais rápido do que um datilógrafo. Esse é o objetivo”, disse Musk, em referência ao falecido cientista britânico que sofria de uma doença neurológica.

Possíveis riscos

Além de ajudar pessoas com distúrbios neurológicos, o chip pretende ampliar a capacidade humana de interação com a tecnologia. O Telepathy, segundo Musk, permitiria “o controle do seu telefone ou computador e, através deles, quase qualquer dispositivo, apenas com o pensamento”. Apesar dos potenciais benefícios, os implantes cerebrais trazem consigo riscos significativos. Em entrevistas com pessoas que tiveram esses tipos de dispositivos conectados ao cérebro ou BCIs, (sigla em inglês para Brain Computer Interface), Frederic Gilbert, professor de filosofia da Universidade da Tasmânia especializado em neuroética aplicada, notou alguns efeitos estranhos: alterações na personalidade e na percepção de identidade, relatadas por usuários de interfaces cérebro-computador, apontam para a complexidade e delicadeza das intervenções cerebrais. Em vários estudos de entrevistas, Gilbert notou que os pacientes relatam sentimentos de não se reconhecerem, ou o que é normalmente chamado de “estranhamento” na pesquisa. “Eles sabem que são eles mesmos, mas não é como antes da implantação”, disse ele.

Essas questões reforçam a necessidade de uma abordagem cautelosa e regulamentada, ponderando os avanços técnicos com suas implicações éticas e psicológicas.

Oportunidades para que as seguradoras desenvolvam produtos e serviços especializados

As inovações em implantes cerebrais, como as desenvolvidas pela Neuralink e outras empresas, podem abrir um novo campo para o setor de seguros de várias maneiras. Conforme essas tecnologias avançam, surgem novas necessidades e riscos associados, criando oportunidades para que as seguradoras desenvolvam produtos e serviços especializados. Algumas das maneiras pelas quais os implantes cerebrais podem abrir caminhos no setor, são:

Seguros de saúde com cobertura para procedimentos específicos

Com os implantes cerebrais entrando em cena, pode haver a necessidade de seguros que cubram especificamente os custos associados a esses procedimentos, incluindo a cirurgia de implantação, manutenção do dispositivo, e acompanhamento médico.

Seguros baseados em dados do próprio chip com risco personalizado

A análise de dados provenientes dos implantes cerebrais pode permitir que as seguradoras ofereçam planos de saúde personalizados, ajustando prêmios com base em dados de saúde em tempo real do segurado.

Produtos de seguro de Vida e Incapacidade com cobertura para complicações a longo prazo

Enquanto mais pessoas optam por implantes cerebrais, surgirá a necessidade de seguros que cubram complicações a longo prazo ou efeitos colaterais inesperados, como alterações na personalidade ou outras condições neurológicas.

Seguros para incapacidade específica

Dado que os implantes podem ser usados para tratar ou mitigar condições que levam à incapacidade, os produtos de seguros podem precisar ser adaptados para levar em consideração a capacidade do implante de restaurar parcial ou totalmente essas funções.

Responsabilidade civil e seguros de erro médico com cobertura para fabricantes e profissionais de saúde

Com a complexidade dos implantes cerebrais, podem surgir questões legais em torno da responsabilidade pelo mau funcionamento do dispositivo ou erros na cirurgia de implantação. Isso pode levar a uma demanda maior por seguros de responsabilidade para fabricantes de dispositivos e profissionais de saúde envolvidos.

Seguros contra hackeamento e violação de dados

Os implantes cerebrais, sendo dispositivos conectados, apresentam riscos de segurança cibernética, incluindo a possibilidade de hackeamento. Isso cria uma necessidade de seguros que protejam os indivíduos contra violações de dados pessoais e suas consequências.

Oportunidades de parcerias e inovação mediante colaboração com startups de tecnologia

O setor de seguros pode se beneficiar formando parcerias com startups focadas em neurotecnologia para desenvolver produtos de seguro inovadores que atendam às necessidades específicas dessas tecnologias emergentes.

Essas inovações podem levar a indústria de seguros a considerar novas formas de cobertura que abordem tanto os riscos quanto as oportunidades

Os implantes cerebrais representam um avanço notável na medicina, oferecendo esperança para o tratamento de condições neurológicas antes vistas como intransponíveis. No entanto, os desafios éticos e riscos psicológicos que acompanham essas tecnologias exigem um debate cuidadoso e regulamentações claras. Ademais, a emergência dessas inovações abre um novo campo para o setor de seguros, demandando políticas que protejam tanto os beneficiários quanto a sociedade dos potenciais riscos. Por isso, o desenvolvimento de implantes cerebrais está desafiando a indústria de seguros a pensar além dos produtos convencionais e a considerar novas formas de cobertura que abordem tanto os riscos quanto às oportunidades apresentadas por essa tecnologia revolucionária.

Pesando prós e contras, é importante ressaltar que enquanto a tecnologia promete abrir novos horizontes para a medicina e para novos produtos no segmento segurador, também incita a uma reflexão sobre como assegurar que seu desenvolvimento ocorra de maneira responsável e benéfica para todos.

Fonte: Insurtalks | CQCS