População longeva estimula crescimento da previdência privada no Brasil

A indústria da previdência tem mostrado um crescimento em ritmo histórico, acompanhando uma população que se torna mais velha e longeva. Isso porque o brasileiro está mais preocupado com a qualidade de vida na aposentadoria e com as dificuldades financeiras que pode vir a enfrentar, segundo informações veiculadas no Valor Econômico. De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de 2000 para cá, os idosos passaram de 8,7% da população para 15,7%. As projeções indicam que os brasileiros com mais de 65 anos serão mais de um terço dos brasileiros em 2070.

Edson Franco, presidente da Federação Nacional de Previdência Privada e Vida (FenaPrevi), pontua: “É difícil atribuir a retomada da previdência privada a um único fator. Mas teve um aumento do número de investidores, que, de 2021 para cá, saiu de 10,4 milhões de participantes para 11,2 milhões”. Com ativos financeiros que ultrapassam R$ 1,5 trilhão e uma captação líquida que avançou 72,3%, de janeiro a agosto deste ano em comparação ao mesmo período do ano anterior, para R$ 42,3 bilhões, as seguradoras vêm explicações que vão além da queda do desemprego e da retomada do crescimento econômico para o aquecimento deste mercado.

“Estamos vivendo em um ambiente com nove gerações. Hoje, há 30 mil pessoas com mais de cem anos no país. Dessas nove gerações, quatro estão no mesmo ambiente de trabalho, com visões diferentes em relação a longevidade”, conta Jorge Nasser, presidente da Bradesco Vida e Previdência, que vem registrando uma forte retomada nos negócios de 2023 para cá. A captação líquida no primeiro semestre deste ano avançou 350% sobre os seis primeiros meses de 2023, para R$ 5 bilhões. São R$ 325 bilhões na carteira de previdência. “Será um ano excepcional para nós”, disse o executivo.

A Bradesco Seguros desenvolveu, em parceria com o Instituto de Pesquisa Locomotiva, um Indicador de Longevidade Pessoal (ILP) e entrevistou 1.058 pessoas com mais de 18 anos. O resultado aponta que as finanças se mostram o aspecto mais desafiador da longevidade para os brasileiros: somente 4 em cada 10 entrevistados possuem reserva financeira para a aposentadoria. De acordo com o executivo, a ideia é oferecer mais ferramentas para a discussão sobre o tema de forma equilibrada e científica para a tomada de decisão. No paralelo, a seguradora estruturou sua equipe para oferta de produtos customizados e, com a ajuda da tecnologia, deu início ao chamado “céu aberto” para capturar novos clientes fora do banco.

O Itaú Unibanco aposta nos 2.500 consultores de investimentos para orientar clientes e elenca plano de saúde, aposentadoria e estudos entre os benefícios que o brasileiro não consegue alcançar sem uma renda mínima. "A preocupação para a maioria da população é chegar nesta fase [envelhecimento] e não estar tão bem estruturada, sem previdência, sem dividendos de ações, sem fundos imobiliários e nenhum tipo de investimento”, disse Cláudio Sanches, diretor de investimentos e previdência do banco.

Com R$ 9 bilhões em captação líquida em previdência de janeiro a agosto de 2024, contra R$ 3,4 bilhões um ano antes, e carteira de R$ 285 bilhões, o executivo tem expectativa de chegar em dezembro com resultado líquido de R$ 20 bilhões. O executivo vê alto potencial de crescimento da previdência privada devido à baixa penetração do produto na população em geral. “As pessoas precisam descobrir que, se começam a investir cedo, nada rende mais no longo prazo do que os juros compostos”, afirma Sanches.

Na XP, a faixa etária média de sua carteira de R$ 65 bilhões em previdência é de 45 anos, enquanto na indústria está acima de 60 anos. “Isso, por si só, denota grande oportunidade. A previdência é vendida por acumulação. Dá para fazer planejamento para acumulação e também para o melhor usufruto. Ainda mais considerando as adequações de regras feitas recentemente pela Susep [Superintendência de Seguros Privados]”, explica Roberto Teixeira, sócio da XP Inc. e head da XP Seguros, que prevê fechar o ano com captação líquida entre R$ 6,5 bilhões e R$ 7 bilhões.

O órgão regulador aprovou no final de 2023 um conjunto de possibilidades de modulação de rendas, desde financeiras até diferidas, fracionadas ou mesmo vitalícias. Antes, a modulação era limitada a questões atuariais e a renda vitalícia. “Hoje pode-se ter renda vinculada ao seu fundo de investimentos. Já na renda diferida, pode-se optar por renda financeira de dez anos e, depois, atuarial”, finaliza Teixeira.

Fonte: CQCS