Como as mudanças climáticas estão redefinindo o setor de seguros
O novo paradigma dos seguros demanda uma integração sistêmica entre modelagem climática, inovação tecnológica, incentivos econômicos e políticas preventivas. A transformação digital do setor e o fortalecimento de estruturas de governança climática são fundamentais para apoiar a continuidade dos negócios, proteger vidas e reforçar a resiliência das cadeias produtivas essenciais diante da crise climática global.
O aumento dramático na frequência e intensidade dos desastres naturais impõe um novo paradigma ao mercado de seguros, especialmente em segmentos de grandes riscos, como agronegócio, infraestrutura, saúde, energia e transporte.
Esses setores, essenciais para a resiliência coletiva, estão entre os mais vulneráveis às variações climáticas e exigem estratégias inovadoras de proteção, capazes de ir além dos modelos tradicionais de precificação e cobertura.
Contexto e dados brasileiros
Em 2023, o Brasil registrou 1.161 desastres naturais, sendo 716 hidrológicos (enchentes, transbordamentos) e 445 geológicos (deslizamentos), uma média de três ocorrências por dia, segundo o Cemaden.
O déficit de proteção securitária é alarmante:
- Na tragédia do Rio Grande do Sul, apenas 5% das perdas foram cobertas por seguros
- Menos de 15% dos ativos localizados em áreas de risco possuem cobertura
- Globalmente, em 2024, perdas por eventos extremos atingiram US$ 368 bilhões, e somente 40% estavam seguradas
Esses números expõem a urgência de ampliar a penetração do seguro, fortalecer mecanismos públicos e privados de proteção e desenvolver novos instrumentos de mitigação e adaptação climática.
Inovação e modelagem climática avançada
O setor de seguros está migrando de abordagens reativas para estratégias preditivas, com o uso de:
- Modelagens climáticas baseadas em IA e machine learning
- Big data para precificação de riscos emergentes
- Sistemas de sensoriamento remoto e inteligência climática
Em agosto de 2024, o Brasil lançou o primeiro modelo preditivo nacional de inundações, já utilizado por mais de 20 empresas e confederações para ajustar prêmios e ampliar coberturas em regiões críticas.
Novos produtos e soluções incluem:
- Seguros paramétricos, que indenizam automaticamente com base em índices climáticos
- Apólices que remuneram boas práticas ambientais
- Coberturas flexíveis para riscos de transição e adaptação climática
O paradigma do seguro muda da reparação para a prevenção - e da reação para a previsão.
Cadeias de valor e continuidade dos negócios
Agronegócio
A produção tropical brasileira é altamente exposta a estresses térmicos, hídricos e nutricionais.
O uso de big data, inteligência climática e apólices customizadas tornou-se essencial para proteger produtores, cooperativas e exportadores em um cenário de variabilidade climática crescente.
Infraestrutura
A resiliência logística e energética depende de seguros especializados, planos de continuidade de negócios e integração entre políticas industriais e ambientais.
Novos modelos de seguro integrado a cadeias produtivas críticas - como transporte, energia e saneamento - já estão sendo testados com apoio de insurtechs e consultorias técnicas.
Incentivos, governança e regulação
A inovação regulatória é um dos pilares do novo paradigma.
Reguladores e instituições financeiras demandam:
- Integração de dados climáticos em auditorias e precificação de risco
- Revisão de normas de construção e infraestrutura urbana
- Educação em cultura de risco e seguro climático
- Transparência na mensuração de emissões e perdas ambientais
A entrada de insurtechs e a cooperação público-privada têm acelerado soluções inclusivas, com foco na universalização da proteção e no apoio à transição justa.
O seguro deixa de ser apenas um instrumento financeiro — e passa a ser ferramenta estratégica de adaptação climática e resiliência social.
Fonte: CNseg | Notícias do Seguro