Mudança de comportamento e segurança viária

Fala-se muito que o comportamento humano é o principal fator que influencia nas colisões de trânsito. Sim colisões! A palavra acidente deve ser “extinta”. Muito se discute sobre esta questão, mas pouco esforço é despendido. A palavra acidente representa algo inevitável, imprevisível e fortuito. Alguns sugerem a substituição pelo conceito de evento de trânsito, outros por colisão de trânsito. Existe uma resistência para a utilização da palavra colisão, pois geralmente é utilizada para tipificar a colisão de trânsito: colisão frontal, lateral, transversal, etc. Já a palavra evento possui relativa resistência por ser utilizada muitas vezes em outros contextos, além do trânsito. Os dois conceitos são bons. Eu utilizo em minha prática colisão. É consenso entre especialistas e educadores que a palavra acidente não é adequada, porque podemos evitar e prevenir sim!  Mas por que não temos hábitos preventivos? Por que resistimos na adesão de atitudes preventivas? Por que nossa cultura de segurança é imatura? É preciso mudar! Para mudarmos para uma cultura de segurança mais preventiva, devemos começar por nós mesmos! Afinal, qual é o seu perfil em relação à cultura de segurança e como você pode mudá-lo?

Mudar o comportamento não é fácil. Estamos inseridos dentro de uma cultura muito imatura em relação à prevenção e temos uma percepção de risco pouca desenvolvida. Veja abaixo algumas características culturais para refletirmos sobre o quanto nossas atitudes influenciam na segurança viária e como podemos mudá-las. É preciso aprofundar sobre a questão de como mudar comportamentos, aproveitando o tema da Semana Nacional de Trânsito 2015: Seja você a mudança no trânsito!

Uma parte das pessoas acredita que as colisões de trânsito acontecerão apenas com os outros, como se estivessem imunes aos riscos do trânsito. Aceitam a violência do trânsito como um destino já escrito previamente, não tendo o poder de sermos protagonistas de nossa própria existência. Acreditam que conseguirão controlar totalmente os riscos no trânsito ou que sua fé irá salvá-los, não necessitando buscar uma formação e melhoria contínua em relação às atitudes de prevenção. Quando acontece a colisão, vem o arrependimento e culpa numa tentativa de voltar no tempo e corrigir o comportamento de risco executado que teve influência na colisão de trânsito. Mas agora é tarde! Essa é uma cultura reativa e primitiva onde o número de colisões e mortes possui um elevado índice. Espera-se acontecer para ver o que fazer. Você é assim?

Outra parte possui um comportamento que varia conforme a percepção de controle externo (fiscalização e punição) de sua conduta. Caso perceba que existe um Agente de Trânsito ou equipamento de fiscalização na via pública, irá ajustar sua conduta enquanto conduz seu veículo ou corrigir sua possível irregularidade conforme as leis de trânsito e outras normas sociais, entre as condutas estão: colocar o cinto de segurança, diminuir a velocidade, deixar de utilizar o celular, parar de comer ou beber (bebida alcoólica ou não), dar seta para trocar de faixa ou deixar de realizar uma conversão proibida, não avançar o sinal vermelho ou a preferencial, abaixar o som que está muito elevado, respeitar ciclistas e pedestres, respeitar a sinalização, assim por diante.  Quando não percebe a figura da fiscalização, retorna a realizar suas condutas de risco. Aqui o perfil do condutor contempla também o condutor contumaz, que repete constantemente suas infrações e que geralmente está assistindo as aulas de reciclagem no Detran. Você já fez o curso de reciclagem? Esses condutores falam sempre em indústrias da multa e não estão muito permeáveis às campanhas educativas de trânsito, mesmo aquelas consideradas mais “fortes”, que mostram colisões e sangue (essas sensibilizam no momento e depois os condutores voltam a executar suas condutas de risco, pois são hábitos enraizados que não se mudam com campanhas pontuais). Nesse caso a fiscalização permanente e a certeza da punição são os melhores caminhos de curto e médio prazo, pois não houve e não há ainda um trabalho de base de educação para o trânsito em todos os níveis de ensino, bem como o mau exemplo está vindo da própria família e dos líderes sociais. Mas hoje no Brasil a impunidade impera no trânsito e os assassinos ficam imunes por uma legislação pífia em relação às punições. Aqui nesse perfil justificam-se comportamentos para não levar multas e punições. Você é assim?

Outra parte já possui uma cultura de segurança mais madura. Quando são questionados sobre o porquê que realizam condutas seguras ou não realizam condutas de risco suas justificativas giram entorno de uma percepção de cuidado e proteção a sua vida e das pessoas que amam. Aqui a proteção e segurança são importantes. A segurança viária é percebida como um valor, dando abertura para atitudes de prevenção. Mas ainda não está completo, pois o cuidado é apenas consigo e com as pessoas que ama. É preciso ir mais longe, promover a proteção e o cuidado mútuo de forma mais ampla, cuidando também de desconhecidos. Você é assim?

Por fim, outra parte possui um comportamento de cuidado mútuo, compartilhando a proteção entre todos. O valor da segurança viária está internalizado de forma semelhante ao grupo anterior, mas o cuidado é ampliado para pessoas desconhecidas também, pois cada pessoa possui uma família por trás que a ama e merece esse respeito. O pensamento coletivo sobrepõe o individual. São pessoas que se preocupam com a coletividade e estão mais abertas a sugestões de melhoria em relação à prevenção. Essa cultura é uma meta para a segurança viária, pois o índice de violência e colisões é muito baixo, mas é preciso um longo trabalho de base para um cuidado coletivo tão maduro. Você é assim?

A mudança cultural é gradual e é preciso o envolvimento e mobilização de todos! Muitos jogam a responsabilidade para a família ou para a escola, mas o valor da segurança com o cuidado mútuo só será desenvolvido na sociedade com a efetiva aplicação da cidadania. Não apenas na busca de nossos direitos, mas também com o cumprimento de nossos deveres no trânsito. É fácil criticar os outros sem criticar a si mesmo, não é verdade? Vamos à luta?

Enquanto não tivermos o apoio para instituirmos de uma vez por todas a segurança viária como eixo educacional em todos os níveis de ensino, campanhas educativas permanentes, fiscalização mais intensa e a devida punição para os que violentam no trânsito, ficaremos apagando incêndio e enterrando nossos familiares e amigos. A guerra está aí e você, ficará parado aguardando a morte chegar a você ou a sua família?

Seja você a mudança no trânsito!

Cassiano Ferreira Novo, ex-diretor de Educação da Escola Pública de Trânsito na SETRAN – Secretaria Municipal de Trânsito – Prefeitura Municipal de Curitiba.

Fonte: Observatório Nacional de Segurança Viária

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